Entrevistas da federação da música gravada em 26 países mostram que, na América Latina, o México é onde mais se paga streaming premium
Quase metade dos brasileiros – 47%, exatamente — consome música pirata. Esta é uma das conclusões de um megaestudo da IFPI, a federação internacional da música gravada, divulgado esta semana. Mais de 43 mil pessoas de 26 dos principais mercados globais de música nos cinco continentes responderam a perguntas sobre seus hábitos de consumo musical. E o nosso país se destacou entre os que mais utilizam meios não licenciados (piratas) para desfrutar de suas canções favoritas — a média global foi de 29%.
Num forte contraste com o nosso país, o também latino-americano México é um dos que mais têm pessoas pagando assinaturas premium do streaming de áudio: 57%, atrás apenas da Suécia (61%), sede mundial do Spotify.
“Os dados específicos da pesquisa relativos ao mercado brasileiro revelam vários aspectos positivos, como por exemplo o fato de as informações nacionais estarem em geral bastante próximas às médias globais, o que demonstra que o setor de música gravada no Brasil está em linha com o que se pratica nos principais mercados musicais do mundo. No caso de utilização de meios piratas para acesso à música, entretanto, estamos acima da média mundial (29% no global, contra 47% no Brasil)”, diz Paulo Rosa, presidente da Pro-Música Brasil, representante da IFPI no país. “Isto reforça a necessidade de trabalho contínuo do setor e atenção dos legisladores e governos, para a proteção tanto dos criadores e artistas como do mercado musical legítimo de música gravada e a continuidade de seu desenvolvimento.”
Entre os aspectos positivos que Rosa menciona, destacam-se as horas dedicadas ao consumo de música no Brasil em relação à média dos 26 mercados. Por aqui, são 24,9 horas semanais, contra 20,7 do mundo. Além disso, os brasileiros usam 9 métodos diferentes, em média (rádio, TV, streaming etc.) para ouvir música, contra 7 da média do mundo.
Em meio ao avanço da inteligência artificial generativa, 85% dos brasileiros continuam a achar que a criatividade humana é indispensável para criar as canções que tanto amam — no mundo, o percentual é de 79%.
Mais: para 83% dos brasileiros, a música é fundamental para a saúde mental; no mundo, 71% pensam o mesmo. E a prova da diversidade musical do nosso país fica evidente no estudo: em média, 10 gêneros diferentes são escutados pelas pessoas, contra 8 na média do mundo.
Um apartado específico do estudo, aliás, mostrou que o Brasil é um dos países onde mais se consomem gêneros locais, com o sertanejo (40% do total) e o funk em primeiro lugar. Em diversos outros mercados, imperam o pop e suas variedades e temperos regionais — um fenômeno que vem sendo relacionado à ideia de glocalização, ou seja a fusão do global com o local.
A média dos países mostrou algumas surpresas no que diz respeito aos gêneros mais consumidos. Embora, nos EUA, o rap/hip hop tenha se tornado há tempos o estilo mais ouvido, no mundo o pop continua a mandar, seguido do rock. A música latina, rainha inconteste na América Latina, na Espanha e em partes dos EUA, é só a 5ª globalmente. E a música clássica aparece numa honrosa 7ª posição entre os gêneros mais consumidos em todo o mundo.
Outra surpresa revelada pelo trabalho da IFPI é a força persistente das mídias físicas. Na média global, 13% das pessoas que responderam à pesquisa tinham comprado um CD no mês anterior; 9% tinham comprado um vinil; e 5%, uma fita cassete. Pop, rap, rock, música eletrônica dançante e música clássica foram, por ordem, os gêneros mais consumidos através de mídias físicas.
A diretora-executiva da IFPI, Frances Moore, celebrou os resultados do estudo que mostram enorme engajamento dos fãs de música com essa arte em todos os mercados. Mas, como Paulo Rosa, ela alertou para o lado escuro do tema, o consumo ainda persistente de pirataria.
“'Engaging with Music' mostra como os fãs estão aproveitando as oportunidades para ouvir mais música e de mais maneiras do que nunca. No entanto, o uso de música não licenciada continua a ser um problema significativo para a comunidade musical, especialmente à medida que as tecnologias continuam a evoluir. Precisamos continuar a fazer tudo ao nosso alcance para apoiar e proteger o valor da música."
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